A escola segue sendo uma máquina de moer crianças negras no Brasil. Falta afetividade para estas crianças, falta dar protagonismo, falta estimular expressão e agência. E as pessoas sabem disso, de um modo ou de outro, não dá pra inventar a roda. Há milhares de educadores no país inteiro trabalhando na área, buscando construir uma prática pedagógica antirracista ou afrocentrada, mas é um processo que se intensifica com a criação da Lei Federal n. 10.639/2003, e anda a passos lentos.
Mas o desejo de falar do assunto nas escolas é fato e aparece na pesquisa “Percepções sobre o racismo no Brasil” encomendada pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista). Realizada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), consultou 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em todas as regiões do país entre os dias 14 e 18 de abril de 2023.
Um total de 69% das pessoas consideram que o tema mais importante a ser estudado dentro das escolas é o racismo. Dos respondentes que acreditam nesta necessidade, 73% possuem o ensino médio e têm renda familiar de 2 a 5 salários mínimos. Faixa composta em sua maioria pelos negros brasileiros.
A pesquisa aponta ainda que os brasileiros acreditam que o cotidiano escolar deve falar sobre história e cultura afro-brasileira (40%), história e cultura indígena (36%).
O levantamento deixa claro que a grande maioria das pessoas só foram aprender sobre racismo no ensino superior (67%). O que é um problema, pois sabemos que os negros ainda não são maioria nos ambientes acadêmicos, ainda que a presença tenha aumentado muito após a implementação da política de cotas.
Mais da metade das pessoas entrevistadas, de todos os níveis educacionais, consideram que a forma que esses temas foram abordados na escola é pouco ou nada
adequada, evidenciando uma lacuna no ensino-aprendizagem.
Ou seja, ainda que as
pessoas respondentes possam ter concluído seus estudos antes ou após a criação das
leis 10.639/2003 e 11.645/2008 (que institui a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura dos Povos Indígenas), esses temas não foram considerados relevantes e prioritários para que a abordagem fosse realizada de modo adequada.